domingo, 6 de setembro de 2020

Quarentena

Ando com palpitações na garganta
Com a boca do estômago revirada.

Sinto o ar rarefeito como se faltasse

Água pra purificar cada centímetro do meu corpo.

A cabeça anda latejando de tantos pensamentos que me arrebatam o sono

E que me fazem (sobre)viver durante a noite

Tudo aquilo que eu não vivo ao longo do dia

O descompasso do meu peito

Tem sido mais ensurdecedor 

Que o silêncio em que tenho habitado 

Há uma súplica entalada na garganta 

Reverberando estridente em meus ouvidos

E não há por perto ninguém para

escuta-la

Exaspero-me em questão de segundos

Me faço tempestade em meio a tanto tormento

E nesse desalento que tem sido existir 

Engulo a seco tudo isso que me revolve a alma.

Fecho os olhos então, em uma tentativa infantil de fazer desaparecer toda essa inexatidão de coerência que tenho sido

Os dias tem sido ácidos

Corroendo as últimas partes de mim que ainda existem.

Sangro hemorrágica insensatez

Que me esvazia de mim dia após dia

Em doses homeopáticas

Sutis o suficiente pra me matar por dentro.

De corpo estirado no meio da sala

Circulo meus membros com giz, como quem quer deixar evidências de que de fato existi

Quem sabe assim tudo isso passe

Quem sabe assim no futuro eu relate

Que foi só um devaneio ao invés de um triste fim


(Meu adeus, de mim)

Nenhum comentário:

Postar um comentário