terça-feira, 10 de setembro de 2019

Indigente

Com o peito escancarado
Encaro as feridas que sangram
E respingam no chão
Manchando tudo que demorei tanto tempo pra organizar.
Toco nesse pedaço de pele que se rasga
E o grito que me entala a garganta
Sufoca minh’alma
Me enforcando sem piedade
Até a visão apagar.
Me esvaio de mim numa tentativa
De acordar em outra dimensão
Que acalente o estrago causado
De um mundo extasiado de horror.
Todavia, encontro-me ainda só.
Com o corpo estirado
(Quase) Sem vida diante de mim.
Sofro, sem forças pra me socorrer
Desse devaneio que me molha o rosto
E me sufoca de tanto desgosto
Por me permitir partir assim.
Não há ninguém por perto que me reconheça
Permaneço ali, em meio a estranheza
De ser uma indigente que não gera qualquer pesar.
Não há quem lamente a morte precoce
De quem sangrou internamente
Ate em colapso o corpo inteiro se afogar.
Nesses segundos finais de inebriante dor
Que não apresentou qualquer sintoma
Deixou no corpo, apenas o hematoma
De tudo que o tempo, não permitiu ser real.
Despeço-me então de mim
E me enterro abaixo de 10 palmos
Que aplaudem com compaixão
A chegada do fim.
Na lápide, restou escrito:
“A quem estiver vivo: esperança”
Enquanto não putrifico
Sigo a desfrutar desses odores
Que exalam o aroma
Da única rosa que deixei pra mim
Despeço-me mais uma vez de mim mesma
Quando, enfim, desapareço.

[sem deixar qualquer vestígio, de que um dia, eu sequer, existi].

Ausência

Tem me faltado palavras
pra explicar a tua presença 
nesses dias tão sós.
Em que o sol já não esquenta
E o lençol não mais protege
do vento gelado que me cerca e me congela,
paralisando meu corpo
Sem conseguir acalmar toda essa maresia 
Que me revira o estômago 
e me turva a visão.
Tens habitado dentro de mim
Me entorpecido a mente
Nesse conflito exaustivo
De não saber se te tiro
Ou te vivo 
Nas memórias desses dias que já não voltam mais.
Há tanto de nós que foi desatado
Que insisto em te amar(rar) em mim feito laço, 
que facilmente se solta e se desfaz (de novo).
Na tela preta de um olhar fechado
Te enxergo palpável e quase posso sentir
Tudo aquilo que depois tanto tempo eu não quis largar.
No meio dessas frases soltas
Sem qualquer coesão e total incoerência
Ratifico a vontade de te tirar das entrelinhas
E te fazer personagem central
Da história mais bela que eu não soube escrever.
São desses rabiscos tortos
E tantas folhas amassadas
Cheias de histórias que não nos pertencem
Que reticencio meus versos
Na esperança de não sermos ponto (a)final.
Quem sabe assim minha inspiração retorne
E as palavras não mais me faltem
Quem sabe assim, 
tu(do) retorne ao seu devido lugar...

sábado, 31 de agosto de 2019

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Nesses dias escassos de sentimentos
Encontro acalento nos momentos de solidão
Que me entorpecem a mente
Sem qualquer motivo aparente
E me transformam em verdadeira confusão
O silêncio tem falado alto
Sobre tudo aquilo que eu quero esquecer
E que ainda guardo
Há tanto acumulado que me exaspero
E postergo
Em uma tentativa vã de acreditar
Que tudo possa voltar ao seu devido lugar
Ando de alma estilhaçada
Em tantos pedaços
Que me firo ao tentar recolher os cacos
Do que ainda resta de mim.
Com a mão cheia de sangue
Limpo o espelho e não me vejo
Há alguém estranho que não reconheço
Reflexo distorcido e esvaído de si
Sufoco, com esse nó na garganta que me cala
E me mata lentamente
No arrastar dessas horas que me atropelam
Permaneço de corpo estirado
De olhos fechados sem querer mais acordar
Rezo então pra que me achem
Que (me) devolvam de volta pra mim
Tudo isso que tem me faltado
Pra que eu possa, finalmente, existir.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Pra mim

Há pedaços meus que já não me cabem
E que já não insisto em fazer caber
Tenho aberto mão do controle
Aprendido a ter calma
Em meio à pressa que se tem de viver
É preciso silenciar 
Pra ouvir bem o lado de dentro
Que sussurra verdades 
Discretas e certas de quem sabe pertencer
Deixo ir o que não quer ficar
Deixo estar o que não sabe ser
E faço as pazes com o tempo
Nesse acalento que é não saber.
Há tanto de si pra descobrir
Que (me/te) permito a liberdade
De ser exatamente o que se é
Dou adeus ao presente
Deixo a Deus o futuro
E confio no retorno seguro
Do bem que é sentir  
Enquanto isso, sigo.
De mãos dadas comigo 
No que escolhi pra mim.
É, bem me quis tanto
Que o pouco já não me basta
E que bom que tem sido assim
...
Acalmo o passo mais uma vez 
Suspiro e relato:
“Apenas o necessário, por favor.” 
O que for verdadeiro, enfim.

terça-feira, 14 de maio de 2019

m(eu)

Ninguém fica sem querer
Ninguém parte por amar
Deve ser dom saber 
Quando é de ser
E se entregar
Vai sem medo menina
Deixa o vento bater 
e lavar a alma aflita
Pois quem vai, sempre fica
Deixa resquícios pelo ar
Solidão é melodia
Que ensurdece ao se tocar
Deixa solta a partitura
Parte em versos
Diversifica
Prosa boa sempre é livre
Faz do sol teu próprio lar
Segue então, tão decidida
Em meio a tantas despedidas
Se despe(de) de mim
Veste-se de si
Que a vida não perdoa
Quem se ausenta de si mesmo
De todos esses devaneios
Visionário é quem sabe ser
O que se é sem receio
E ainda sim, opta por ficar.

[Por (se) amar]