sábado, 7 de dezembro de 2024

Quase

Hoje foi a primeira vez que o silêncio habitou dentro de mim 
Que faltou o barulho da rotina
Da risada desaforada
De uma vida há dois bem construída
Que já não coube mais aqui.
Hoje foi a primeira vez que a bagunça tomou conta da casa
Que eu não dei conta de nada
Que quase me carreguei pra fora daqui.
Só não fui porque sempre me encontro
Procurando justificativas soltas 
Que essa pilha de louças sujas 
Sabe expressar melhor do que eu.
Hoje foi a primeira vez que me vi sozinha
Sem conseguir te preencher
Sem conseguir te fazer entender
O porquê que foi tão necessário te deixar ir.
Viver nas sombras de uma história 
Que quase foi tudo que sempre se quis
É como se alimentar de migalhas
Enquanto a fome arranca a parede do estômago
E te torce o corpo inteiro em dor.
O quase perfeito é comodismo.
Ser complementares não nos torna inteiros
E aceitar tudo é o mesmo que não fazer questão de nada.
E foi esse nada que restou.
Lembranças de uma vida não vivida
Idealizada por expectativas criadas
Que permitiam demais
Coisas que não podiam nos pertencer.
Hoje foi a primeira vez que respirei fundo
E o peito concordou com o silêncio.
Que eu olhei pra essa casa vazia
E a desordem do lado de fora
Organizou a bagunça do lado de dentro.
Somos o quase mais bonito que já existiu.
Ainda bem que acabou.
E a gente pode enfim, ser inteiros.
Todo recomeço tem uma maneira incrível de surpreender.

Basta a gente querer.
(E se permitir)

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