segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Cultivo

Há tanto em mim que mudou
desde a tua chegada
inesperada, porém, fortemente sentida.
O peito que outrora andava latente
hoje permanece acelerado
em constante (des)compasso
revelando tudo aquilo que ainda não sabe
(ou pode) ser dito.
É curioso pensar na relatividade do tempo
em como ele pode ser curto e imenso
no mesmo período de um dia.
As manhãs regadas de café e prosa
alicerciaram uma vastidão de sentimentos
que hoje nos acompanha madrugada a fora
nos tornando (um para o outro) verdadeiro acalento.
Há uma certa gratidão pela descoberta
de que a realidade sentida
nunca fora desatino desvairado
mas desejo genuíno
entrelinhado na curvatura do lábio
que desanda a desenhar o teu pedaço mais bonito.
Desde então o cotidiano 
revestiu-se de futuro e presença 
sussurrados na infinitude de detalhes
que ínfimos ratificam a magnitude que somos:
Nós bem atados
Envoltos em laço aprumado
do mais belo presente já construído.
Toda essa urgência que me causas
desacelerou a vida
hoje ando em passos lentos e largos
apreciando cada pedaço dessa vista.
Permaneço sendo calmaria
de uma maresia que me transborda 
e impulsiona ao outro lado da margem
sem qualquer medo da profundidade iminente
que não me afoga, ao revés, me salva.
Pela primeira vez (me) vejo
no reflexo do teu olhar que tanto fala
mesmo em meio ao silêncio
e (me) encontro pra nunca mais (me) perder.
É nesse plantio que cultivo
com tanto afinco tudo isso que me cativou 
para que continuemos a brotar amor
A todo instante, pelo tempo que for… 





sábado, 7 de dezembro de 2024

Quase

Hoje foi a primeira vez que o silêncio habitou dentro de mim 
Que faltou o barulho da rotina
Da risada desaforada
De uma vida há dois bem construída
Que já não coube mais aqui.
Hoje foi a primeira vez que a bagunça tomou conta da casa
Que eu não dei conta de nada
Que quase me carreguei pra fora daqui.
Só não fui porque sempre me encontro
Procurando justificativas soltas 
Que essa pilha de louças sujas 
Sabe expressar melhor do que eu.
Hoje foi a primeira vez que me vi sozinha
Sem conseguir te preencher
Sem conseguir te fazer entender
O porquê que foi tão necessário te deixar ir.
Viver nas sombras de uma história 
Que quase foi tudo que sempre se quis
É como se alimentar de migalhas
Enquanto a fome arranca a parede do estômago
E te torce o corpo inteiro em dor.
O quase perfeito é comodismo.
Ser complementares não nos torna inteiros
E aceitar tudo é o mesmo que não fazer questão de nada.
E foi esse nada que restou.
Lembranças de uma vida não vivida
Idealizada por expectativas criadas
Que permitiam demais
Coisas que não podiam nos pertencer.
Hoje foi a primeira vez que respirei fundo
E o peito concordou com o silêncio.
Que eu olhei pra essa casa vazia
E a desordem do lado de fora
Organizou a bagunça do lado de dentro.
Somos o quase mais bonito que já existiu.
Ainda bem que acabou.
E a gente pode enfim, ser inteiros.
Todo recomeço tem uma maneira incrível de surpreender.

Basta a gente querer.
(E se permitir)