Deixo esvair de mim
Tudo aquilo que me encheu de ti
Todas as palavras raras
Todos os risos vastos
Que me cobraram caro
e me custaram tempo.
Me tornei tormento
Sem nem perceber,
e me diminui ao ponto
de me fazer caber na tua realidade
na (tua) vaidade sincera
de quem, com humildade,
se acha bom entendedor da vida.
Essa que só pode ser vivida
dentro dos teus próprios termos
feitos de cláusulas tão rígidas
que qualquer retificação não é, sequer, ponderada.
Essa imposição disfarçada de convite
a todo esse imaginário belo
trancou-me em uma sala pequena
de impecável isolamento acústico
sufocando a melhor nota que já consegui entoar nessa vida.
Eu, que repetidas vezes,
Já tinha me prometido, não mais me perder
Me vi escoando como água
Pra preencher espaços, que não eram meus.
Essa minha versatilidade
de ser material tão adaptável
Permitiu reiteradas vezes
que eu fosse moldada,
como brinquedo nas mãos de uma criança,
incapaz de identificar o valor que tem diante de si.
É nesse momento,
que rememoro todo o esforço que foi
me refazer e ser (eu)
diante de um mundo que sempre (me) limitou.
Me pego pela mão,
dessa vez, com todo cuidado e zelo
“Vamos.”
É preciso coragem pra se refazer tantas vezes
pra se sentir suficientemente inteira
e seguir, firme, sem hesitar,
no caminho que eu, realmente, escolhi pra mim.