O tempo que tanto procuro
foi o mesmo que perdi por diversas vezes
que atropelei entre passos incertos
e que escoou como agua perante os dedos.
Esse mesmo tempo
que ora passou depressa
ora arrastou-se no peito,
brincou com a mente
e sufocou a respiração.
Negando a si mesmo a existência
do ritmo descompassado que ecoava no salão.
Como outrora os olhos poderiam ver?
O que tão de perto se apresentava...
seria a imaginação?
delírio desvairado?
escancarada redundância
de quem confunde o pronome
que fundamenta tal relação?
Fomos tanto sem sequer ser
vivemos tanto sem ter ciência
e o que a experiência relata?
senão a vivência tranquila
que entre nós se desata
depois de tanto desamor.
Me auto destruo por certo
Como bomba firo tudo ao meu redor.
Subo e desço feito roda gigante
Rodo o mundo e não saio do lugar.
Será que descerei outra vez?!
Já não nego o que sei e (não) quero
Conto em silêncio todo aquele por vir
que me arranca o canto dos lábios para cima.
Somos feitos de certeza
ainda que construídos pela falta dela.
Somos um do outro
Antes mesmo de ser.
Nos tornamos de verdade no meio do caos.
Me achei em ti.
E tu em mim.
E isso me basta.
Enquanto soubermos nos reconhecer.
Nesse ínterim,
Reverbera alto o tic tac do relógio.
"Que coisa" - penso
já não me importam as horas
"Já era sem tempo, amor"
[Da gente, finalmente, florescer].