quarta-feira, 6 de julho de 2022

Flor de Liz

 É sempre incontrolável
Aquilo que foi enraizado em nós
Sem que pudéssemos escolher.
Que discernimento teria
A criança que aprende sobre o mundo
Pelos olhos dos próprios pais?
Essas raizes que até hoje me prendem
Vem de solo profundo
Em que sequer encontro o começo
Há em mim vontade de reorganizar o lado de dentro
Fazer sentindo no sentir
Ainda que ele seja, simplesmente, feito de dor.
São tantos os processos que me trouxeram aqui
Anda tudo tão bagunçado
Que me podam mais ainda, toda vez que estão por perto
Cada corte sangra diferente
Cada parte que me é arrancada
Deixa um vazio que ninguém pode preenche
E como poderiam?
Se cada corte me arranca cada vez mais pra longe de mim…
E porque?
Há em mim algo tão ordinário que não valha a pena o cultivo?
Tenho lutado contra isso
Venho fazendo de mim solo fértil
Mesmo que há anos não me regue a chuva…
Sigo me adaptando aos poucos
Crescendo entre essas lacunas que restaram por aqui.
Ando desejando me preencher de mim
Ante todo esse caos causado
Hei de brotar em terreno novo
Onde exista espaço, de fato, pra mim.
Não nego o medo
De nunca me ver livre dessas raizes
De permanecer sendo morte 
Ao invés de flor de Liz.
Quem sabe haja no sol esperança
Trazendo enfim uma dose de bonança 
Pra que eu nasça de novo, 
Cabendo perfeitamente em mim.