segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Narrativa

Me vejo refletida
nessa sala escura
sem conseguir compreender
a imagem que vejo.
Não me reconheço.
São tantos traços
mal relatados
de uma história que, nem sempre,
me apetece a alma.
Me pego relendo essas linhas
pra ver se encontro qualquer sentido
que explique a inexatidão desses versos.
Verbos que soam bem mais abruptos
do que a narrativa pedia
quase que em tom de melancolia.
Me torno inquieta
duvido de tudo:
sou parte da história que escrevo
ou sagaz espectadora?
que se deleita com a desgraça alheia
sem uma gota de piedade.
Penso:
"Ai de mim se inverter os papéis
Se for coadjuvante da minha própria escrita."
Entrelinho tanto o sentido
que sequer sei usar os de mais.
ou pelo menos algo
que deixe esse roteiro mais agradável.
Me torno crítica de mim mesma.
Ocupo cada centímetro desse lugar
até não mais caber 
Sozinha, debaixo do holofote,
em um teatro vazio
onde tudo que reverbera é o silêncio,
encaro mais uma vez a escuridão
(dessa vez a minha).
Assumo o papel

p r o t a g o n i s t a

Apagam-se as luzes.
Abrem-se as cortinas.
"Que comece o próximo ato." - suspiro

[dar-me-ei o melhor de mim]

Intrepidez

Dou um passo.
Paro.
Estremeço.
Com o ar rarefeito.
Pareço inexistir.

Fecho os olhos.
Suplico.
Há tanto em mim que precisa emergir.
e outro tanto a ser esquecido.

Tem sido tendência.
A vista desfocada
que enxerga tudo que não deveria.

Enquanto o frio me embrulha o estômago.
Respiro.
Ajusto a rota e insisto.
É preciso seguir
ainda que haja grandes chances de colisão.

Me faço intrepidez
Ainda que não haja nenhuma por dentro.
e me envolvo de acalento.
Até o caminho (me) fazer sentido.

(tudo isso que tenho guardado em silêncio, remanescido em mim)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Coragem

Estremeço a passada
com a perna bamba
meio despreparada
como bebê que descobre os pés 
pela primeira vez.
Essa incerteza
entre a queda e o progresso
as vezes paralisa
outras ratifica
que a evolução exige
machucados no percurso.
Tenho tentado dar, a cada um, 
significado.
Aprecio as cicatrizes
que marcadas na pele registram
que são partes de mim.
Faz tanto tempo que duvido da estrada
que as vezes esqueço
de contemplar a viagem
sempre mais curta do que se gostaria.
Admiro a infância
a vontade de descobrir a vida
com toda a coragem que habita em si mesma.
São lapsos que se perde no tempo
nessa racionalidade exacerbada
de ter que ser/ter tudo, menos, quem de fato se é/quer.
Por isso o relato...
desses passos inseguros
que não sabem sequer pra onde devem ir.
Na relatividade que compõe o tempo
retifico os sentidos
pra que tudo possa ser (re)visto 
de outra perspectiva
e o que ainda está por vir
(e virá)
seja o que precisa ser
quando tiver
ou puder
sem que se precise questionar.