Me vejo refletida
nessa sala escura
sem conseguir compreender
a imagem que vejo.
Não me reconheço.
São tantos traços
mal relatados
de uma história que, nem sempre,
me apetece a alma.
Me pego relendo essas linhas
pra ver se encontro qualquer sentido
que explique a inexatidão desses versos.
Verbos que soam bem mais abruptos
do que a narrativa pedia
quase que em tom de melancolia.
Me torno inquieta
duvido de tudo:
sou parte da história que escrevo
ou sagaz espectadora?
que se deleita com a desgraça alheia
sem uma gota de piedade.
Penso:
"Ai de mim se inverter os papéis
Se for coadjuvante da minha própria escrita."
Entrelinho tanto o sentido
que sequer sei usar os de mais.
ou pelo menos algo
que deixe esse roteiro mais agradável.
Me torno crítica de mim mesma.
Ocupo cada centímetro desse lugar
até não mais caber
Sozinha, debaixo do holofote,
em um teatro vazio
onde tudo que reverbera é o silêncio,
encaro mais uma vez a escuridão
(dessa vez a minha).
Assumo o papel
p r o t a g o n i s t a
Apagam-se as luzes.
Abrem-se as cortinas.
"Que comece o próximo ato." - suspiro
[dar-me-ei o melhor de mim]