segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Tempo - 15.12.2022

O tempo que tanto procuro
foi o mesmo que perdi por diversas vezes
que atropelei entre passos incertos
e que escoou como agua perante os dedos.

Esse mesmo tempo
que ora passou depressa
ora arrastou-se no peito,
brincou com a mente 
e sufocou a respiração.
Negando a si mesmo a existência
do ritmo descompassado que ecoava no salão.

Como outrora os olhos poderiam ver?
O que tão de perto se apresentava...
seria a imaginação?
delírio desvairado?
escancarada redundância
de quem confunde o pronome
que fundamenta tal relação?

Fomos tanto sem sequer ser
vivemos tanto sem ter ciência
e o que a experiência relata?
senão a vivência tranquila
que entre nós se desata
depois de tanto desamor.

Me auto destruo por certo
Como bomba firo tudo ao meu redor.
Subo e desço feito roda gigante
Rodo o mundo e não saio do lugar.

Será que descerei outra vez?!
Já não nego o que sei e (não) quero
Conto em silêncio todo aquele por vir
que me arranca o canto dos lábios para cima.

Somos feitos de certeza
ainda que construídos pela falta dela.
Somos um do outro
Antes mesmo de ser.

Nos tornamos de verdade no meio do caos.

Me achei em ti.
E tu em mim.
E isso me basta.
Enquanto soubermos nos reconhecer.

Nesse ínterim,
Reverbera alto o tic tac do relógio.
"Que coisa" - penso
já não me importam as horas
"Já era sem tempo, amor"

[Da gente, finalmente, florescer].

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

B de Bobagens

Depois de tanta desavença
me despeço.
Com lágrimas nos olhos por,
novamente, não ter dado certo.
Questiono-me como pôde
tudo ser tão ofuscado
tão mal interpretado
quando o que se quis desde o principio
foi, apenas, amar.
E que imenso foi tal sentimento
não consigo entender o momento
em que a imensidão tornou-se tormento
e nos jogou pra todos os cantos
sem que pudéssemos nos segurar.
Hás de entender um dia
que tanta desavença foi tentativa de cuidado
que tanta dor não era necessária
que quase tudo podia ser evitado
se tivéssemos sabido amar.
Ah meu bem, quem diria,
que tudo haveria de somar
pra depois se perder...
Ando de peito cansado
atormentado pelas lembranças
de todas as bobagens que nutrimos
Passamos de casal a estranhos
vivendo sonhos tão opostos
que procuro guardar em mim
somente o que foi bom
e os detalhes do teu sorrir.
Eis que o tempo te levou pra longe
eis que, finalmente, podemos seguir,
(ainda que há muito, não se tenha quisto isso)
Adeus você, meu bem
É sempre sentida a dor da despedida
mas hoje te deixo caminhar
pra fora do meu peito
pra que possas ir...

[onde sempre sonhastes em estar]

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Falta

Te carrego dentro de mim
como criança que agarra seguro
seu brinquedo preferido.
Não há uma parte minha
que queira (te) soltar
e ainda sim, me escapas pelas mãos.
Choro
entre essas lamentações e angústias
levanto desesperada atrás de ti
ou de qualquer coisa que me remeta
aos momentos que dividimos em silêncio
e que faziam o peito transbordar.
É tão estranho o vazio que ficou
parece faltar algo a todo momento
o tempo bate dessincronizado
e meu corpo sofre como quem
tem uma parte sua amputada.
e Dói...
...cada segundo que não te encontro
em cada canto que fazias teu,
em cada movimento agoniado
em cada respiração cansada
e em cada sono tranquilo
em que eu não me mexia só pra não te despertar.
Nossa rotina, que até os últimos dos dias
foi repleta de abraços apertados,
hoje deixar assim o peito
sufocando e dificultando a respiração.
Ainda não aprendi a viver nesse silêncio
à falta de resposta aos meus escândalos apaixonados.
Porque ainda sigo aqui
te amando por inteiro dentro de mim
e sendo saudade
desde que te deixei ir...
...e fostes, cedo demais pra eu saber suportar.

Detalhes

Não sei quando se tornou difícil
ou se sempre foi
me relacionar com alguém.
Eu, que presto atenção em cada detalhe do outro
não sei onde guardo tais pedaços
quando tudo termina
pois, de fato, sempre termina.
E só o que ficam são os traços únicos
que ninguém mais tem, guardados em mim.
Acabo me tornando parte
me formando dessas partes
e construindo um novo eu
que olha pra tudo isso
sem saber de novo o porque desse apego
se sequer lembro do que deveria lembrar.
São apenas momentos embaçados:
a dança de punhos fechados;
o olhar perdido em seus próprios pensamentos
o sorriso escondido que as bochechas entregam
o enrolar ansioso das mãos debaixo do rosto.
São essas as coisas que ficam
que me fazem refém de mim
que me impedem de (pros)seguir em conjunto
e me fazem estar melhor só.
se é que de fato estou.
Se doar é um ato que deveria ser de liberdade
um salto no escuro de olhos fechados
sabendo que a queda livre
é, no fundo,
o amparo mais seguro que se quer (e precisa).
No final das contas,
cabe somente a mim dar sentido a esses pequenos detalhes
de descobrir o que resiste ao fim
e tudo que ele é
até um dia, quem sabe, deixar de ser.

domingo, 25 de setembro de 2022

Vida

Tenho habitado em um constante hiato
vivendo no presente 
todo o passado que eu consiga reaver.
A angustia que já não é mais intermitente
me domina a mente
entorpecendo qualquer traço de racionalidade remanescente.
Há de se concordar que a realidade
já não é mais onde se queria estar...
quisera eu conseguir subverter
toda essa inexatidão que tem sido existir
em algo que fizesse o menor dos sentidos.
O silêncio que me ensurdece os ouvidos
não consegue preencher nada da casa
ainda que hajam móveis na sala
tudo parece vazio desde então.
Tudo...Exceto o peito.
Ah, o peito...
Já não sei descrever que dor é essa 
que consegue ocupar cada pedacinho do meu corpo
não há como disfarçar no rosto
as migalhas que restaram de mim
desde a tua partida.
Me partistes em pedaços tão pequenos
e escondestes os rastros
que ainda que eu procure, eu não me acho
Descobri que era você
quem sustentava todo o meu ser.
Como prédio sem fundação, desabo.
Entre lamentações e desabafos
Continuo chorando mar que não sabe pra onde deve desaguar.
Ouvi dizer que o tempo ameniza as dores
mas essa insiste em me carregar pelas mãos,
estapeando-me os ombros, dizendo:
"- calma, ainda temos muito a seguir."
A ironia é que me sinto estagnada, 
Irreversivelmente quebrada
pois tudo que sempre soube ser foi
por ti, o mais puro amor.
Não há nada que me conforte dessa despedida
nada que apague a decisão mais doída
que um dia eu tive que tomar.
Rezo verbo incoerente e incerto
na esperança de um dia sair desse hiato
e encontrar de novo Vida,
ou a aptidão de sentir algo que não seja dor.
Ratifico tudo que tua ausência me causou
Retifico contextos que seguem caóticos
e entrelinho tudo aquilo que 
essas linhas são incapazes de dizer.
.
.
.
Saudade tem nome
forma e não cabe no peito.
O meu continua sendo teu,
[Pra sempre, até meu fim chegar...]

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Flor de Liz

 É sempre incontrolável
Aquilo que foi enraizado em nós
Sem que pudéssemos escolher.
Que discernimento teria
A criança que aprende sobre o mundo
Pelos olhos dos próprios pais?
Essas raizes que até hoje me prendem
Vem de solo profundo
Em que sequer encontro o começo
Há em mim vontade de reorganizar o lado de dentro
Fazer sentindo no sentir
Ainda que ele seja, simplesmente, feito de dor.
São tantos os processos que me trouxeram aqui
Anda tudo tão bagunçado
Que me podam mais ainda, toda vez que estão por perto
Cada corte sangra diferente
Cada parte que me é arrancada
Deixa um vazio que ninguém pode preenche
E como poderiam?
Se cada corte me arranca cada vez mais pra longe de mim…
E porque?
Há em mim algo tão ordinário que não valha a pena o cultivo?
Tenho lutado contra isso
Venho fazendo de mim solo fértil
Mesmo que há anos não me regue a chuva…
Sigo me adaptando aos poucos
Crescendo entre essas lacunas que restaram por aqui.
Ando desejando me preencher de mim
Ante todo esse caos causado
Hei de brotar em terreno novo
Onde exista espaço, de fato, pra mim.
Não nego o medo
De nunca me ver livre dessas raizes
De permanecer sendo morte 
Ao invés de flor de Liz.
Quem sabe haja no sol esperança
Trazendo enfim uma dose de bonança 
Pra que eu nasça de novo, 
Cabendo perfeitamente em mim.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Vendaval

Vendaval
que me beija
e me arrebata.

- no pior sentido da expressão -

do tornado 
à tormenta.
quem aguenta?

no chão
tudo espalhado
nada mais parece caber.

Sento.
Como quem não sabe o que fazer
(ou como).

Sinto.

Muito nessa tragédia
Poderia ser evitado?
Não sei
nem mais importa.

No olho do furacão
o silêncio abraça
em contraste à toda essa destruição.

Resta tudo do o s s e v a

(a escolha da perspectiva ratifica. Ou não).

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Narrativa

Me vejo refletida
nessa sala escura
sem conseguir compreender
a imagem que vejo.
Não me reconheço.
São tantos traços
mal relatados
de uma história que, nem sempre,
me apetece a alma.
Me pego relendo essas linhas
pra ver se encontro qualquer sentido
que explique a inexatidão desses versos.
Verbos que soam bem mais abruptos
do que a narrativa pedia
quase que em tom de melancolia.
Me torno inquieta
duvido de tudo:
sou parte da história que escrevo
ou sagaz espectadora?
que se deleita com a desgraça alheia
sem uma gota de piedade.
Penso:
"Ai de mim se inverter os papéis
Se for coadjuvante da minha própria escrita."
Entrelinho tanto o sentido
que sequer sei usar os de mais.
ou pelo menos algo
que deixe esse roteiro mais agradável.
Me torno crítica de mim mesma.
Ocupo cada centímetro desse lugar
até não mais caber 
Sozinha, debaixo do holofote,
em um teatro vazio
onde tudo que reverbera é o silêncio,
encaro mais uma vez a escuridão
(dessa vez a minha).
Assumo o papel

p r o t a g o n i s t a

Apagam-se as luzes.
Abrem-se as cortinas.
"Que comece o próximo ato." - suspiro

[dar-me-ei o melhor de mim]

Intrepidez

Dou um passo.
Paro.
Estremeço.
Com o ar rarefeito.
Pareço inexistir.

Fecho os olhos.
Suplico.
Há tanto em mim que precisa emergir.
e outro tanto a ser esquecido.

Tem sido tendência.
A vista desfocada
que enxerga tudo que não deveria.

Enquanto o frio me embrulha o estômago.
Respiro.
Ajusto a rota e insisto.
É preciso seguir
ainda que haja grandes chances de colisão.

Me faço intrepidez
Ainda que não haja nenhuma por dentro.
e me envolvo de acalento.
Até o caminho (me) fazer sentido.

(tudo isso que tenho guardado em silêncio, remanescido em mim)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Coragem

Estremeço a passada
com a perna bamba
meio despreparada
como bebê que descobre os pés 
pela primeira vez.
Essa incerteza
entre a queda e o progresso
as vezes paralisa
outras ratifica
que a evolução exige
machucados no percurso.
Tenho tentado dar, a cada um, 
significado.
Aprecio as cicatrizes
que marcadas na pele registram
que são partes de mim.
Faz tanto tempo que duvido da estrada
que as vezes esqueço
de contemplar a viagem
sempre mais curta do que se gostaria.
Admiro a infância
a vontade de descobrir a vida
com toda a coragem que habita em si mesma.
São lapsos que se perde no tempo
nessa racionalidade exacerbada
de ter que ser/ter tudo, menos, quem de fato se é/quer.
Por isso o relato...
desses passos inseguros
que não sabem sequer pra onde devem ir.
Na relatividade que compõe o tempo
retifico os sentidos
pra que tudo possa ser (re)visto 
de outra perspectiva
e o que ainda está por vir
(e virá)
seja o que precisa ser
quando tiver
ou puder
sem que se precise questionar.