terça-feira, 17 de novembro de 2020

Nós

Te guardo do lado de dentro
feito parte que se reparte
e se multiplica dentro de mim.
São pequenos infinitos
que em suas particularidades
me fazem te sentir aqui, 
ainda que não estejas.
Hei de me surpreender por vezes
com todo esse encaixe,
que como peças de um quebra cabeça
revelam (em nossa) imagem
o melhor de nós,
meu eu escancarado à ti.
Nesse tempo,
que ora soa como mero relance
ora me ecoa eternidade
percebo que já não te cabes
dentro de mim.
Tenho transbordado verdade
nessa realidade exuberante
construída de dia a dia, que,
ainda cinzas, sabem bem fazer o céu colorir.
Tenho ansiado por nós meu bem,
cada instante tem sido presença
em cada presença a mesma vontade:
de te ter sempre por aqui,
Talvez nada disso faça sentido
e já não me importo
ou sequer é preciso
desde que seja sentido por nós.

E há de ser, todos os dias.

(Enquanto houver amor)

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Relato

No silêncio do meu quarto
escancaro porta adentro tudo aquilo que não sei expressar 
ou já não consigo.
São tantos verbos perdidos, 
compostos de tanta confusão
que se atropelam e me atravessam por dentro
dilacerando meu corpo e me tirando a razão.
Já não sei dialogar comigo
Já não encontro motivos 
pra esse mal estar louco
que pouco a pouco me massacra
e me avassala no pior sentido da expressão.
Não há técnica de respiração que acalme a alma,
nem que cale essas vozes que sussurram em meu ouvido
todo esse desalento que tem sido suportar.
Tenho vivido em um labirinto.
Tenho tentado fugir de mim mesma
mas me encontro em cada canto
à postos, pronta pra me humilhar.
Não há saída que me salve,
não há ninguém que me resgate
desse loop de insanidade
nessa prisão sem janelas ou grades
que me prendem sem qualquer pudor.
Sigo então nesse vai e vem de descontentamentos
sem saber ou ter forças de como ou para onde prosseguir.
Nesse ínterim de tanta inexatidão
apenas uma súplica:

L i b e r d a d e

ou talvez seja só mais um relato de solidão.